Crónica de Raphael Mesquita | Mais à vista que o papa

Raphael Mesquitacp

Crónica de Raphael Mesquita | Mais à vista que o papa

 

Caso estejam ausentes do mundo e longe de qualquer tipo de meio de comunicação social durante toda o mês, fiquem a saber que o Papa Francisco foi chamado à sala do chefe.

Como tal, grandes figuras de estado se prontificaram a prestar homenagem ao senhor, sendo que no caso do presidente da câmara de Lisboa, Carlos Moedas, foi ao senhor Carlos Moedas, utilizando vivências com o alto pontífice para enaltecer o seu trabalho. O trabalho do Carlos, no caso. Afinal, ele lembra-se bem de como as palavras do Santo Padre o elogiaram.

Agora pondera renomear o Parque Tejo com o nome da figura papal para que toda a gente se lembre do grande homem que o trouxe a Portugal. Ultimamente tem-se falado muito do Carlos Moedas, e isto é porque o Carlos Moedas fala muito do Carlos Moedas.

Seguindo o exemplo, o estado português não quis ficar atrás e declarou um estado de luto de 3 dias. Acontece que sua santidade morreu dia 21 e o luto nacional foi declarado dia 24. Será que estavam com medo que o papa desse uma de Jesus? Deram os 3 dias por via das dúvidas, não fosse o chefe do homem mandá-lo voltar a trabalhar e terem de cancelar todo o luto. Seria deveres aborrecido o grande trabalho que seria de terem de subir novamente uma bandeira num mastro.

Tal pudor faz sentido, ou não fossem as pessoas assim de repente pensar que estávamos num estado laico.

A Itália, um país muito mais próximo da antiga casa do papa, declarou um luto de 5 dias logo no dia 22. Portugal demora sempre um pouco mais, e prova, mais uma vez, que quando as coisas chegam cá os assuntos já morreram.

Entretanto, devido ao luto nacional o governo adiou as suas próprias comemorações do 25 de Abril, porque até podemos fazer menos que os italianos, mas fazemo-lo com muito mais vontade de não fazer coisas.

O adiamento das celebrações do dia 25 é uma bonita homenagem, porque se há algo pelo qual este papa ficou conhecido é por nem gostar de celebrações de liberdade. A mesma figura conhecida pelo discurso de “todos, todos, todos” claramente seria a favor que “ninguém, ninguém, ninguém” comemorasse os valores de Abril.

As celebrações adiadas passaram então para o dia 1 de Maio. Aparentemente não há nada mais demonstrativo do país para este governo do que no Dia do Trabalhador português ainda se estar a fazer trabalhos do mês anterior.

Tal evento contou até com um concerto do Tony Carreira, escolha esta que faz todo o sentido. Afinal, o senhor Tony com certeza terá muito sucesso em deixar cravos nas mãos das pessoas, e tal como o primeiro-ministro Luís Montenegro, deixou toda uma carreira para os seus filhos.

Raphael Mesquita


Raphael Mesquita
Sou o Rafu, comediante com 6 anos de experiência, nascido no Brasil, filho de mãe angolana e com raízes portuguesas – uma mistura que me proporciona um olhar único sobre as realidades dos dois lados do Atlântico. Atualmente vivo no Porto, após percursos por Lisboa e Coimbra, deixando abaixo uma breve apresentação:
“O Rafu é um jovem velho, de Coimbra a viver no Porto; Não é pessoa de meias medidas (veste uma de cada tamanho) e sabe como as palavras podem magoar (porque uma vez um livro lhe caiu em cima). O Rafu nasceu no Brasil, a mãe é angolana, a avó portuguesa e às vezes vê-se russo com isso. Foi vocalista de uma banda, o que lhe valeu o primeiro emprego e a falta de vida própria. Deixou Lisboa porque estava cansado de pedir uma torrada em inglês. Trabalha muito, ganha pouco e só precisa de uma oportunidade (e algum dinheiro, vá). Fez de padre numa curta metragem, foi o mais próximo que esteve de ser santo.”

Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Raphael Mesquita


 

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